Mas ela era de um caráter imperioso; respeitava muito os princípios de
sua moral severa, mas não acatava do mesmo modo as conveniências de que a
sociedade cercava essa moral.
Linha reta e linha curva - Machado de Assis.
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017
Sabia juntar muita jovialidade a muita delicadeza; sabia fazer rir sem
saltar fora das conveniências. Acrescia que, voltando de uma longa e
pitoresca viagem, trazia as algibeiras da memória (deixem passar a
frase) cheias de vivas reminiscências. Tinha feito uma viagem de poeta e
não de peralvilho.
Soube ver e sabia contar. Estas duas qualidades, indispensáveis ao
viajante, por desgraça são as mais raras. A maioria das pessoas que
viajam nem sabem ver, nem sabem contar.
Linha Reta e Linha Curva - Machado de Assis.
terça-feira, 3 de maio de 2016
sexta-feira, 18 de março de 2016
Idealismo
Falas de amor, e eu ouço tudo e calo!
O amor da Humanidade é uma mentira.
É. E é por isso que na minha lira
De amores fúteis poucas vezes falo.
O amor! Quando virei por fim a amá-lo?!
Quando, se o amor que a Humanidade inspira
É o amor do sibarita e da hetaíra,
De Messalina e de Sardanapalo?!
Pois é mister que, para o amor sagrado,
O mundo fique imaterializado
— Alavanca desviada do seu fulcro —
E haja só amizade verdadeira
Duma caveira para outra caveira,
Do meu sepulcro para o teu sepulcro?!
Augusto dos Anjos
Falas de amor, e eu ouço tudo e calo!
O amor da Humanidade é uma mentira.
É. E é por isso que na minha lira
De amores fúteis poucas vezes falo.
O amor! Quando virei por fim a amá-lo?!
Quando, se o amor que a Humanidade inspira
É o amor do sibarita e da hetaíra,
De Messalina e de Sardanapalo?!
Pois é mister que, para o amor sagrado,
O mundo fique imaterializado
— Alavanca desviada do seu fulcro —
E haja só amizade verdadeira
Duma caveira para outra caveira,
Do meu sepulcro para o teu sepulcro?!
Augusto dos Anjos
terça-feira, 15 de março de 2016
Senti medo de estar trancada nessa jaula e de perceber, mais adiante, que fui eu mesma que me tranquei. Senti medo porque meus pés tem pressa de correr por tantos lugares nesse mundo e eu achei que estava firmando o meu chão, mas, de repente, descobri que era falso todo o chão que eu pisei. Agora estou assim, de pernas bambas e coração duro.
.
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sábado, 5 de março de 2016
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
(Com licença poética , Adélia Prado.)
Nunca sofri abuso sexual. Mas à minha moral foram apresentados socos que deixam aquele roxo latejante. Pedaços dela estão sendo comprados sem que eu tenha colocado à venda. Um chocolate. Uma flor. Um relógio.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
(Com licença poética , Adélia Prado.)
Nunca sofri abuso sexual. Mas à minha moral foram apresentados socos que deixam aquele roxo latejante. Pedaços dela estão sendo comprados sem que eu tenha colocado à venda. Um chocolate. Uma flor. Um relógio.
Nunca arreganharam as minhas pernas. Mas arreganharam a minha reputação quando tentei reagir. Fui manchada, acusada, disputada como é um resto de comida por animais. Engraçado, até hoje essa moeda circula por aí com apenas um lado.
Cadê o outro lado da moeda? Isso sempre foi tão desproporcional. Minha avó que o diga. E a avó dela. E a avó da avó dela... Tantas mulheres já driblaram isso e eu insisto em rodear.
O outro lado é sempre tão bem visto, tão benquisto e tão convencível também. Basta pronunciar: Louca. Exagerada. Doente. Mal amada. Puta. E pronto!
Quantos lugares serão frequentados sem que eu saiba se alguma das outras mulheres também estiveram ali? Quantas mensagens serão lidas? E quantas serão apagadas? Quantas vezes a culpa será redirecionada? Quantas vezes reduzirão a manchete o soco na cara?
Cada dia uma nova manchete de uma nova agressão contra uma nova louca. E cada pancada ali exposta vem doer exatamente aqui, no meu roxo latejante.
sexta-feira, 27 de novembro de 2015
quinta-feira, 22 de outubro de 2015
quarta-feira, 21 de outubro de 2015
Por um segundo eu vivo como quem há anos tenta
Por um segundo eu tento viver como alguém
No mesmo segundo eu caio
e já não é mais o mesmo segundo
É ainda o resto de um segundo que já não existe
Não existe nada além do segundo
que no segundo em que eu escrevia já passou
Por um segundo eu finjo que não importa
Por um segundo eu entro pela porta
Que em um outro segundo passado
Eu vi fechada como que definitiva
É ainda a mesma porta
Mas é outro segundo já agora
Outro do qual eu não mais tenho
Por um segundo eu amo como um mortal
E adoro como um deus infinito
Por um segundo eu grito calado
A impressão de ouvir o som
É ainda o mesmo som
Mas já é agora em outro lugar
Outro no qual não estou
Por um segundo eu morro apressado
Pra renascer no outro a seguir
Por um segundo eu renasço sentindo
A sensação de deixar um amor
É ainda o mesmo amor
Mas esse já não é meu
É de outro alguém que não sou
Por um segundo sou forte
Pra trair o meu peito no segundo seguinte
Por um segundo eu pareço distante
Do resto do resto do mundo
É ainda o mesmo mundo
Mas é outro de que me esqueço
Quando me lembro por um segundo
Guilherme Sanches
segunda-feira, 19 de outubro de 2015
Existe um caminho em mim
Nesse caminho percorrem
As suas verdades e as minhas
Existe um caminho em mim
Nesse caminho a sua mão
Sua junto com a minha
Existe um caminho em mim
Nesse caminho o seu sim
Confronta o meu talvez
Existe um caminho em mim
Nesse caminho o mesmo vale
Que separa é também o que une
Nesse caminho percorrem
As suas verdades e as minhas
Existe um caminho em mim
Nesse caminho a sua mão
Sua junto com a minha
Existe um caminho em mim
Nesse caminho o seu sim
Confronta o meu talvez
Existe um caminho em mim
Nesse caminho o mesmo vale
Que separa é também o que une
quinta-feira, 15 de outubro de 2015
segunda-feira, 12 de outubro de 2015
Eu esperei tanto por essa primavera, pelas flores que ela traria, e, olha só, esse frio veio para congelar o que eu trago aqui. Ontem andei pelas ruas sozinha. Mãos geladas, escuridão e um frio que parecia rasgar a minha pele, só para escolher um lugar. Eu me fecho tanto em mim, que isso foi o melhor que pude fazer. Dizem que faz bem externar a realidade interna. Eu saí.
Voltei pelas mesmas ruas. Os portões cheios de orvalho. Ninguém para me desviar das poças. O frio veio para isso, para anunciar que vou continuar conversando comigo pelas ruas molhadas e que minhas mãos geladas vão continuar geladas por um bom tempo.
quinta-feira, 8 de outubro de 2015
quarta-feira, 7 de outubro de 2015
segunda-feira, 5 de outubro de 2015
Somos assim. Sonhamos o voo, mas tememos as alturas. Para voar é preciso
amar o vazio. Porque o voo só acontece se houver o vazio. O vazio é o
espaço da liberdade, a ausência de certezas. Os homens querem voar, mas
temem o vazio. Não podem viver sem certezas. Por isso trocam o voo por
gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram.
É um engano pensar que os homens seriam livres se pudessem, que eles não são livres porque um estranho os engaiolou, que se as portas das gaiolas estivessem abertas eles voariam. A verdade é o oposto. Os homens preferem as gaiolas ao voo. São eles mesmos que constroem as gaiolas onde passarão as suas vidas.
É um engano pensar que os homens seriam livres se pudessem, que eles não são livres porque um estranho os engaiolou, que se as portas das gaiolas estivessem abertas eles voariam. A verdade é o oposto. Os homens preferem as gaiolas ao voo. São eles mesmos que constroem as gaiolas onde passarão as suas vidas.
Rubem Alves
sexta-feira, 2 de outubro de 2015
segunda-feira, 28 de setembro de 2015
Ao Amor Antigo
O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.
O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.
Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
a antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.
Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.
Carlos Drummond de Andrade
segunda-feira, 14 de setembro de 2015
sábado, 12 de setembro de 2015
A crise revela o nosso caráter. O que você faz ou como se comporta após uma crise é a sua essência verdadeira. Se você está internamente podre, a crise vem para tirar a sua tampa e, a partir disso, os seus atos terão o seu verdadeiro cheiro e a sua verdadeira cor.
"O homem bom, do bom tesouro do seu coração, tira o bem, e o homem mau, do mau tesouro do seu coração, tira o mal, porque da abundância do seu coração fala a boca." - Lucas 6:45
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